Tem gelo na Lua – pouco, mas tem

Uma equipe de pesquisadores encontrou a assinatura da água em estado sólido em alçapões frios próximos aos polos da Lua. É o que diz um novo estudo.

Marte, o planeta anão Ceres e mesmo Mercúrio têm gelo em suas superfícies. Nestes dois últimos, ele está em áreas permanentemente sombreadas, como crateras. Mesmo assim, detectar água diretamente na Lua ainda era um desafio. Os cientistas finalmente observaram evidências de gelo no satélite, usando linhas espectrais.

“A observação de características espectrais de H2O confirma que o gelo está preso e acumula nas regiões permanentemente sombreadas da Lua”, escrevem os autores do artigo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.

Ceres, Mercúrio e a Lua estão levemente inclinados em relação ao Sol, deixando algumas crateras permanentemente nas sombras. Estas regiões podem ser extremamente frias, chegando a -163,15°C. O único calor que elas recebem é da luz solar refletida e dos próprios corpos celestiais.

É de se imaginar que regiões como estas acumulam sólidos, como gelo — e, de fato, isso acontece, em Mercúrio e Ceres. Mas os cientistas só haviam achados algumas evidências ambíguas de gelo na Lua, graças ao Orbitador de Reconhecimento Lunar (LRO, do inglês Lunar Reconnaissance Orbiter).

Diagrama mostrando a localização do gelo nos polos lunares. Imagem: Li et al (PNAS 2018)

A grande questão era que os instrumentos do LRO mediram a interação característica da água em estado sólido com certos tipos de comprimento de onda de luz, ou espectros, na faixa do ultravioleta. Mas as assinaturas ultravioleta também podem ter vindo de outras moléculas, como o hidróxido — OH, e não H2O.

O Mapeador de Mineralogia Lunar (M3, do inglês Moon Mineralogy Mapper), um instrumento a bordo da espaçonave indiana Chandrayaan-1, por sua vez, procurou por água em estado sólido absorvendo três comprimentos de ondas de luz específicos, próximos do infravermelho. “A co-ocorrência das três absorções seria uma evidência de gelo”, escrevem os autores.

Então, os cientistas mediram a luz que rebateu nas paredes ou colinas e partiu para as regiões permanentemente sombreadas. Eles encontraram os espectros e o gelo. Só que foi menos gelo do que se esperava.

“No total, apenas aproximadamente 3,5% dos alçapões frios em ambos os polos lunares apresentaram assinaturas e gelo”, diz o texto. Os sedimentos nos alçapões de Mercúrio e Ceres estão aparentemente cheios de gelo, enquanto os da Lua parecem ser apenas 30% de água em estado sólido.

Analisar os dados não foi fácil. “Quando Shuai Li [autor do primeiro estudo, da Universidade do Havaí] descreveu pela primeira vez o que ele queria investigar usando os dados do M3, eu pensei que ele estava louco”, diz Carle Pieters, cientista planetária da Universidade Brown que não participou da pesquisa, à Scientific American.

Ela explicou que os pesquisadores desistiram de procurar usando os dados de baixa qualidade do M3, mas Li perseverou, usando vários testes estatísticos. Ela declarou estar convencida pelo estudo.

Por que a Lua tem menos gelo do que se esperava? Eles ainda não sabem, mas pretendem descobrir com pesquisas futuras.

Mas, sim, há água na Lua. Talvez ela tenha estado lá este tempo todo. Mas os mistérios continuam. A Lua é um lugar muito estranho.

[PNAS]

Imagem do topo: Nigel Howe (Flickr)