O relógio do Juízo Final está a três minutos para a meia-noite

O Boletim de Cientistas Atômicos anunciou que o relógio do Juízo Final, que representa a nossa proximidade de um evento apocalíptico, permanecerá em três minutos para a meia-noite. Isso é aterrorizante.

“Esta decisão não é uma boa notícia, e sim uma expressão de desânimo de que os líderes mundiais continuam a não concentrar seus esforços e a atenção do mundo na redução do extremo perigo representado pelas armas nucleares e pela mudança climática”, disse o grupo em um comunicado.

Em um mundo que não vê guerra nuclear em mais de 70 anos, o chamado relógio do Juízo Final pode parecer exagerado. Mas quando você olha para o número de quase-acidentes que tivemos em toda a nossa história nuclear, uma coisa fica clara: isso não é piada.

Sim, o relógio do Juízo Final é reconhecidamente um truque para chamar a atenção, usado pelo grupo anti-proliferação nuclear e seu periódico, o Boletim de Cientistas Atômicos, desde 1947 – mas é de fato importante.

História

O relógio do Juízo Final é uma representação do perigo de ameaças como as alterações climáticas, tecnologias de armas e – talvez mais importante – o potencial para a guerra nuclear. O mais próximo que o relógio já chegou de “meia-noite” foi em 1953, quando a União Soviética conduziu seus próprios testes com bombas de hidrogênio após testes dos EUA. Naquela ocasião, o relógio do Juízo Final ficou em dois minutos para a meia-noite.

“Quando nós dizemos que esses perigos são existenciais, é exatamente isso que queremos dizer: eles ameaçam a própria existência da civilização e, portanto, devem ser prioridade para os líderes que se preocupam com seus eleitores e seus países”, disse o grupo em um comunicado.

O Boletim de Cientistas Atômicos foi fundado em 1945 por um grupo de cientistas que participaram do Projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Eles ajudaram a trazer a tecnologia de armas nucleares para o mundo, e ficaram aterrorizados com o que ajudaram a desencadear.

É fácil desconsiderar esses avisos como exageros ou tolices. Afinal de contas, uma arma nuclear não é usada em guerra desde 1945. Mas desde esse ano, estamos a um botão de distância para começar a Terceira Guerra Mundial. Seja devido a uma ordem equivocada dada a um capitão da Força Aérea americana em 1962, ou a uma simulação de computador em 1979 que criou um alerta falso de ataque nuclear soviético, nós chegamos bem perto de um inverno nuclear.

doomsday clock (3)

O que fazer

Apesar de nosso foco em outras questões, a proliferação nuclear e a segurança desse arsenal no mundo devem permanecer na consciência internacional. É para isso que existe o relógio do Juízo Final. A parte difícil é que, ao contrário da retórica de tantos políticos, este não é um problema que pode ser resolvido por bombardeios.

Perguntas como “E se o Estado Islâmico pusesse as mãos em uma arma nuclear?”, ou “O que acontece se a China ou a Rússia lançar acidentalmente um primeiro ataque contra os EUA?”, ou mesmo “O que acontece se os EUA lançarem acidentalmente um primeiro ataque contra um adversário?” não podem ser resolvidas construindo-se mais bombas. É difícil sair desta ameaça em particular, porque as próprias bombas são a ameaça.

Então o que precisamos fazer? De acordo com o Boletim de Cientistas Atômicos:

– reduzir drasticamente os gastos propostos em programas de modernização para armas nucleares.

– reenergizar o processo de desarmamento, com foco em resultados.

– envolver a Coreia do Norte para reduzir os riscos nucleares.

– dar seguimento ao Acordo de Paris, com ações que reduzam drasticamente as emissões de gases de efeito estufa; e cumprir a promessa de manter o aquecimento abaixo de 2°C.

– lidar agora com o problema comercial de resíduos nucleares.

– criar instituições especificamente designadas para analisar e combater mau uso potencialmente catastrófico de novas tecnologias.

Obviamente todas essas coisas não podem ser alcançadas em nível individual. Se o relógio do Juízo Final serve para algo, é para nos lembrar que nenhum desses problemas podem ser resolvidos sem cooperação global.

São três minutos para a meia-noite. Boa sorte, humanidade.

[Bulletin of the Atomic Scientists]

Fotos por Alex Brandon e Jeff Chiu/AP